segunda-feira, 15 de março de 2010

8 - A BATAHA DO POÇO DA CAVA

Regressado da ilha de Achale, Viriato teve conhecimento por mensageiros de confiança que o Senado Romano tinha enviado o general romano Caio Nigídio a quem confiara a missão urgente de reprimir de vez os Lusitanos, apagando da memória as derrotas anteriores. Não havia tempo a perder era urgente ir ao encontro de Nigídio cujo exército vagava pela Beira Alta devastando, incendiando granjas e casas, roubando gado e destruindo sementeiras para reduzir pela fome a população.
Próximo dos montes Hermínios apareceram dois esculcas (mensageiros) trazer a notícia de que o general romano acampara o seu exército dentro do Poço da Cava (Cava de Viriato). Viriato ficou satisfeito com a notícia porque um plano genial passou pela sua mente.

Enquanto se aproximava da Cava, Viriato buzinava no seu “corno de boi “ , sinal que os maiorais sabiam que era para reunirem. Quando chegou ao Planalto da Torre, já lá se encontravam os cinco maiorais que tratavam dos gados. Sem grandes falas, Viriato, disse:
- Preciso que sejam apartados trezentos touros bravos, corpulentos que vão ser guiados por vinte vacas, daquelas mais brincalhonas e dentro de dois dias quero-as metidos nos dois algares que vocês bem conhecem. Também quero bastantes cães de fila para empurrar os touros.
Os maiorais perceberam a estratégia de Viriato e prontificaram-se a cumprir o que ele lhes pedira.
A noite caía, e como Viriato se afastara com os seus soldúrios para longe, Nigídio deu ordem para que as legiões recolhessem-se dentro da Cava, certo que na manhã seguinte iria envolver Viriato e infligiria a derrota que tanto ambicionava. De noite umas luzes vislumbravam-se à volta do acampamento mas os soldados romanos de nada suspeitaram dos movimentos dos maiorais e de Viriato.

Com extrema perícia os maiorais guiaram, os trezentos touros bravos, atraídos pelas vacas, em direcção à Cava. Quando chegaram perto da Cava, Viriato fez açular os cães contra os touros, os maiorais retiraram as vacas da dianteira. A fúria dos touros excedia quanto se imaginara; vendo luz no acampamento dos romanos, para aí se atiraram num força brutal num ímpeto irresistível. Os gritos de horror, a confusão de vozes revelavam a gigantesca catástrofe. Entre os corpos mortos viam-se esfrangalhados as bandeiras das legiões com os números bordados a ouro. Pelo chão revolvido e ensanguentado viam-se as signas dos centúrios; alguns ainda agarravam a coroa alusiva a alguma vitória; agarrados aos seus pendões, jaziam porta-estandartes sem o brilho e fulgor de outros embates. Cascos de ferro e de cobre, escudos de pau chapeados de ferro, cotas de malhas revestidas de couro ou com escamas de metal, couraças de bronze, espadas de dois gumes, espadas curtas, dardos, flechas, fundas enchiam todo o espaço da Cava, como se um furacão de morte tivesse atravessado o acampamento do general romano.
Entre os poucos legionários do exército de Caio Nigídio que escaparam, desertaram.
Caio Nigídio não apareceu, fora uma das vítimas da tremenda catástrofe. Viriato mais uma vez saía vitorioso.

Sem comentários:

Enviar um comentário