quarta-feira, 10 de março de 2010

5 - O SÁBIO IDEVOR


Um grupo de homens, a que se davam o nome honorífico de Anciãos e cuja palavra era inspirada e eloquente chegaram a Toletum. O povo pelo costume antigo chamava Endre a cada um desses homens, a quem acatavam como depositários de um maravilhoso poder espiritual. De facto os Endres eram propriamente os Antigos das tribos, os que conservavam a norma e o sentido moral ou histórico dos costumes, possuíam um saber do passado, que os tornava oráculos vivos, conselheiros em todos os momentos arriscados e conciliadores nas lutas internas e separatistas das várias tribos. Um destes Endres, o mais querido entre as tribos, era o venerando Idevor. Quando passava pelos povoados chamavam-no de Sanctum Anderu, e davam-lhe coroas feitas de ramos de azinheira. Pela sua paixão pela Lusitânia se justifica o regozijo que em seu espírito provocou o aparecimento de Viriato.
Sentado a uma mesa bebendo cerveja de cevada, Leucon, chefe das tribos celtibéricas, falando para outros chefes lusitanos, desprezava o que se dizia sobre a qualidade militar de Viriato, e vingador dos morticínios de Sérvio Galba.
Idevor que entrara na taberna e ao ouvir que tentavam amesquinhar a bravura do lusitano disse:
- Eu conheço a vida desse valente pastor. Quantos aqui possuem gados, sabem qual o valor de um homem as quem confiaram vinte mil cabeças de gado, levando-os de barranco em barranco e defende-los de lobos, ursos e mesmo de salteadores. É verdadeiramente um homem: e, pela resistência ao sofrimento e às contrariedades, é o tipo dos lusitanos. O que insurreccionou a sua alma contra os romanos foi ter assistido à mortandade ordenada Galba.
- As ameaças e as represálias romanas fizeram compreender a todos os chefes das tribos lusitanas presentes, que tinham de dar o seu apoio a Viriato como recurso da própria segurança. Foi geral a concordância.
- Que seja entregue a Viriato o Colar de Ouro dos Três Crescentes como insígnia poder e para que lhe obedeçamos como nosso igual.
Idevor, erguendo-se com o seu aspecto majestoso, falou:
- Eu sei onde pára oculto o Colar de Ouro dos Três Crescentes, que atesta essa época em que todos os Estados da Lusitânia estavam ainda unidos. O Colar está oculto numa caverna onde existem umas ruínas, com menires e grandes monólitos sobrepostos, no fundo da rocha e escavada na rocha encontra-se uma Arca que contém o Colar. Eu só guardava o segredo desse tesouro incomparável, muitas vezes receei que ele se extinguisse com a minha vida! Eu vou buscá-lo.
Regressado a Toletum com o Colar dos Três Crescentes, os chefes lusitanos caminharam ao seu encontro, saudando-o com gritos de alegria, e erguendo ao ar as suas lanças de prata, bradaram com entusiasmo.

- Lançai ao pescoço e Viriato a Víria do comando – O Colar dos Três Crescentes.
Antes, porem, pediu que Idevor que recitasse a Saga ou narrativa que se dizia existir da Víria ou Colar de Ouro dos Três Crescentes.
Idevor não se fez rogado, e começou a recitar do poema de Chrysaôr, que segundo a tradição contava milhares de anos de antiguidade.
O Endre sapiente; o velho, mostrando o Colar de Ouro dos Três Crescentes, avançou para junto de Viriato, e depois de fazer uma vénia solene lançou-lhe ao pescoço a Víria da tríplice soberania
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