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segunda-feira, 15 de março de 2010
12 - FONTES DE PESQUISA
11 - TRAIÇÃO E MORTE DE VIRIATO
- Ainda tenho a minha espada. - Disse Viriato
Aproximando de Lisia disse-lhe que tinha que partir, sem demora, para suster este perigo, e impedir a deslealdade do general romano
No seu caminho, Viriato verificou que multidões de gente foragida das cidades invadidas, saqueadas e incendiadas por Quinto Cépio.
A malvadez com que Cépio procedia contra as populações, chegando a mandar expor nas praças pregados em cruzes os lusitanos que lhe lembravam o Tratado de Paz violada, fez reflectir Viriato, sendo impossível organizar as forças para o enfrentar iria opor-se com a força moral.
-Quero lembrar a Quinto Cépio que temos um Tratado de Paz assinado pelo seu irmão Serviliano e ratificado pelo Senado de Roma. Que nós não o infringimos, e que acreditamos na fidelidade de Roma no cumprimento das lei. Que três dos meus leais companheiros lhe vão mostrar o Tratado de Paz, e declarar-lhe que à majestade dele entregamos a nossa defesa. E sereis vós, Ditalco, Andaca e Minuro, encarregados desta missão.
Transportando ramos de oliveira para se anunciarem e demonstrarem que iam em paz.
- Direis a que vindes – perguntou o soldado romano
- Envia-nos Viriato dizendo que recebeu de Roma o título de Amigo e é lhe impossível pegar amas
contra Roma, e lembra que existe um Tratado ratificado pelo Senado e pelo povo de Roma.
- Não posso ouvir falar nesse tratado assinado por meu irmão. Esse tratado nada vale para mim
- disse Cépio aparecendo junto aos soldados
- Violais então a autoridade de Roma? perguntou Andaca
- Os tratados só têm força que lhe dão as espadas, e digo-vos mais, que o Senado autorizou-me
hostilizar Viriato. Tenho aqui cartas de Roma dizendo-me para continuar a guerra da Lusitânia.
- Parece que assim, a nossa missão está terminada -disse Ditalco
- Não a considereis terminada – respondeu Quinto Cépio- Quereis paz na Lusitânia'
- Claro! respondeu Minuro
- A paz na Lusitânia, mas não a Paz com Viriato! - disse Cépio
O desafio estava lançado e os três lusitanos logo se aperceberam quais as intenções romanas.
- Roma carece de gente valorosa e com energia nestas terras. Roma encarregou-me de vos conferir o título de Cidadãos Romanos, as honras do Patriciado, com acesso altos cargos da República, e uma substancial quantia em sestércios, se...
- Efectivamente Viriato está-se a tornar-se um embaraço. Quando se chega a certa popularidade torna-se um perigo concordaram Andaca,Ditalco e Minuro.
Sem grandes demoras Quinto Cépio, retira o capacete da cabeça, deita três pedras, em que uma dizia “Morte” e cada um dos lusitanos tirou uma pedra. A sorte calhou a Minuro.
Era noite alta quando os três lusitanos regressaram, ao acampamento. Viriato sentia os passos dos seus companheiros, que se aproximavam silenciosamente da barraca. Minoro afastou o pano e entrou com um punhal atrás das costas. Viriato quis gritar mas Minuro rápido curvou-se sobre ele descarregando o golpe fatal. Feito o trabalho, os três traidores montaram os seus cavalos e saíram à desfilada para o acampamento romano.
- Viriato está morto, vimos buscar a recompensa – disse Minuro
Quinto Cépio olhou com indiferença e desprezo para aqueles homens e disse:
- Roma não tem por costume dar prémios a soldados que matam o seu general.
Andaca, Ditalco e Minuro, montaram a cavalo e desapareceram o mais rápido que foi possível do acampamento romano temendo por suas vidas. Mas as suas traições não ficaram impunes. Minuro não conseguiu resistir ao que tinha feito a Viriato e enforcou-se. Andaca e Ditalco foram apanhados por uns soldados lusitanos que saíram em sua perseguição e mataram-nos.
Viriato foi vestido com um fato de gala magnífico, amarraram-lhe os cabelos na testa, como se fosse entrar em combate, colocara na cabeça a tríplice cimeira e o capacete de couro, pendente do pescoço o pequeno escudo concavo, preso por correias, e numa das mãos a falcata.
Os soldados levaram-no para cima de um alto penhasco, grandes molhos de rama e pinheiro, de faias e carvalhos, formando uma pira e colocaram o corpo já rígido de Viriato. O fogo foi ateado enquanto danças guerreiras se faziam à volta da pira, batendo escudos e floreando as lanças.
O fogo foi rápido a devorar o corpo de Viriato para tanta vida de êxitos.
Lisia na Torre de Achale soube da morte do seu amado. Entregou a Espada de Viriato ao velho Endre Idevor, seu pai, caminhou resolutamente para o parapeito da torre e precipitou-se com toda a sua insondável amargura nas águas revoltas que na piedade imanente da sua natureza fizeram que o seu corpo não fosse profanado e nunca mais fosse visto.
10 - CASAMENTO DE VIRIATO
- Cumpriu-se o teu desejo disse Viriato
- A Paz? Com o procônsul e general Serviliano?
- Sim. A Paz com Roma é uma realidade. A Lusitânia é independente e livre.
Viriato tira de entre a cota de malha de linho, o Tratado de Paz que entregou a Lisia que tão emocionada e com os olhos rasos de água de felicidade não conseguiu ler, e foi o Endre Idevor que leu a parte final do texto:
- Haverá Paz entre o Povo Romano e Viriato.
Lisia, lançando os braços em volta de Viriato, repetia com voz emocionada:
- Temos uma Pátria livre! Temos uma Pátria livre!
Viriato tomou o cinto de ouro que Serviliano lhe tinha oferecido, com o título de Rei da Lusitânia e Aliado de Roma e colocou-o na cintura de Lisia como prova de amor.
- E aceitas-te? - Perguntou Lisia
- Não aceitei o título de Rei da Lusitânia, mas fiquei com ele para ser a minha primeira jóia de núpcias. -disse Viriato.
Lisia tirou o cinto de ouro, e tomando a mão de Viriato foi colocá-lo sobre o altar do Deus Endoliver.
O Senado de Roma ratificou o Tratado de Paz e a Lusitânia passava a partir daquele dia livre e independente. Para que o tratado fosse efectivo, e que a paz fosse duradoura, Viriato mandou desarmar o exército. Apesar de alguns chefes não estarem de acordo, a vontade de Viriato e foi comunicados a todos os povos e terras esta decisão. Viriato agora só desejava casar com Lisia.
- Eu vos entrego, oh bravo Viriato, a minha filha Lisia, trocando este lar paterno pelo que ides fundar com esperança e amor – assim disse Idevor.
Depois de um grandioso banquete, de danças e recitação de poemas, Lisia e Viriato, no dia seguinte partiram com destino à Cava de Viriato aonde se formara um esplendoroso arraial, em que se expuseram todas as riquezas naturais e industrias das terras lusitanas
Por onde Lisia passava punham-lhe arcos de flores e verdura; atapetavam-lhe a estrada com ramos de alecrim e verbena, e arrojavam-lhe punhados de trigo, cantando seguidilhas de felicitações e augurando venturas. De braço dado, os dois esposos deram entrada na Cava, dentro das muralhas estavam expostos como numa feira franca todos os gados, cereais, tecidos, e outros objectos que as populações ofereceram a Viriato como seu libertador.
Foi à mesa do banquete que Viriato tirou a viria do Colar dos Três Crescentes e colocou no pescoço da sua esposa, abdicando ali diante de todos, do poder militar que lhe tinha sido confiado.Dali em diante o símbolo da guerra passaria as ser uma jóia da bela Lisia.
As festas de casamento duraram oito dias, e nesse decurso nunca deixaram de chegar novas mensagens e carinhosos presentes que encheram a Cava.
Mas nem tudo ia correr bem naqueles felizes dias. Nuvens negras apareceram no céu predizendo maus augúrios. Apareceu Tântalo preocupado porque teve conhecimento que os generais romanos Quinto Cépio e Décio Bruto se aproximavam da Lusitânia com algumas legiões, quebrando o Tratado de Paz.
9 - TRATADO COM SERVILIANO
Manobrar com rapidez de modo que Serviliano não consiga manter disciplina e ordem na batalha. E em vez de esperar o ataque, deu ordem para um assalto instantâneo para estabelecer confusão nas tropas romanas e que fossem desferidos em diversos pontos. O assalto encheu de assombro o exército inimigo foram recuando aguardando reforços, e que decidiriam a luta. Uma circunstância salvou nesse momento Serviliano com a ajuda em cavaleiros e elefantes enviados por Micipsa, Rei da Numidia. O exército reanimando-se com o extraordinário reforço, toma a ofensiva. Viriato evitando o combate, foi atraindo o exército romano para terrenos seus conhecidos, com a sua técnica de contra-ataque, que consistia em atacar e depois fugir. Os elefantes foram de imediato abatidos do mesmo modo que o fez na batalha dos Monte Gaúdios. Serviliano com o exército cansado e com a perda de 3000 homens pelas incursões dos homens de Viriato refugia-se em Ituca.
Reabastecido, Serviliano procurou Viriato em vão, avançou para norte, tomando em poucos dias algumas cidades fiéis a Viriato, fazendo dez mil escravos e manda degolar 500 indivíduos considerados partidários de Viriato. Nas suas marchas Serviliano não encontrava o cabecilha lusitano. Decide tomar Erisane, cidade rica e populosa, saqueou-a e fez muitos escravos. Os soldados dividia-se em volta da cidade abrindo fossos, quando inesperadamente de dentro dos seus muros irrompem cavaleiros lusitanos. Parecia que a cidade se desfazia, a violência e rapidez e os gritos estridentes viu-se que era gente de Viriato. O exército romano, sem ensejo para entrar em ordem, vai abandonando o terreno, sem saberem que estavam a ser impelidos por Viriato para um desfiladeiro apertado entre dois montes. Logo que Viriato conseguiu encurralar o grosso do exército consular, deu ordem a uns companheiros para fazerem rolar do alto das duas montanhas grandes penedos. Dispostas assim as coisas, mandou parlamentários a Serviliano.
- Que o cônsul Serviliano considere perdido o combate ou qualquer resistência.
- Que ao primeiro sinal de resistência rolariam pedras sobre o exército romano.
- Que antes de qualquer procedimento, queria saber o que é que propunha Serviliano para que o exército romano fosse salvo.
A resposta de Serviliano não demorou.
- Que Quinto Fábio Máximo Serviliano pelos poderes conferidos pelo Senado Romano, lhe entregava um Cinto de Ouro, como insígnia de autoridade de soberano.
Que poderia Viriato a partir daquela altura considerar-se Rei da Lusitânia, e fiel Aliado de Roma, sendo o seu primeiro acto a assinatura de um Tratado de Paz e a dissolução do exército.
O tratado foi redigido com todas as formalidades do Direito das Gentes, e Serviliano assinou como procônsul. Viriato firmou em nome dos povos lusitanos que representava: Trocaram os diplomas autênticos, um iria para Roma outro ficou na posse de Viriato. Nesse dia os dois exércitos passaram em festa, ficando no campo as tropas de Viriato, até que o exército romano deixasse de ser visto seguindo em marcha para o seu quartel de inverno.
8 - A BATAHA DO POÇO DA CAVA
Próximo dos montes Hermínios apareceram dois esculcas (mensageiros) trazer a notícia de que o general romano acampara o seu exército dentro do Poço da Cava (Cava de Viriato). Viriato ficou satisfeito com a notícia porque um plano genial passou pela sua mente.
Enquanto se aproximava da Cava, Viriato buzinava no seu “corno de boi “ , sinal que os maiorais sabiam que era para reunirem. Quando chegou ao Planalto da Torre, já lá se encontravam os cinco maiorais que tratavam dos gados. Sem grandes falas, Viriato, disse:
- Preciso que sejam apartados trezentos touros bravos, corpulentos que vão ser guiados por vinte vacas, daquelas mais brincalhonas e dentro de dois dias quero-as metidos nos dois algares que vocês bem conhecem. Também quero bastantes cães de fila para empurrar os touros.
Os maiorais perceberam a estratégia de Viriato e prontificaram-se a cumprir o que ele lhes pedira.
A noite caía, e como Viriato se afastara com os seus soldúrios para longe, Nigídio deu ordem para que as legiões recolhessem-se dentro da Cava, certo que na manhã seguinte iria envolver Viriato e infligiria a derrota que tanto ambicionava. De noite umas luzes vislumbravam-se à volta do acampamento mas os soldados romanos de nada suspeitaram dos movimentos dos maiorais e de Viriato.
Com extrema perícia os maiorais guiaram, os trezentos touros bravos, atraídos pelas vacas, em direcção à Cava. Quando chegaram perto da Cava, Viriato fez açular os cães contra os touros, os maiorais retiraram as vacas da dianteira. A fúria dos touros excedia quanto se imaginara; vendo luz no acampamento dos romanos, para aí se atiraram num força brutal num ímpeto irresistível. Os gritos de horror, a confusão de vozes revelavam a gigantesca catástrofe. Entre os corpos mortos viam-se esfrangalhados as bandeiras das legiões com os números bordados a ouro. Pelo chão revolvido e ensanguentado viam-se as signas dos centúrios; alguns ainda agarravam a coroa alusiva a alguma vitória; agarrados aos seus pendões, jaziam porta-estandartes sem o brilho e fulgor de outros embates. Cascos de ferro e de cobre, escudos de pau chapeados de ferro, cotas de malhas revestidas de couro ou com escamas de metal, couraças de bronze, espadas de dois gumes, espadas curtas, dardos, flechas, fundas enchiam todo o espaço da Cava, como se um furacão de morte tivesse atravessado o acampamento do general romano.
Entre os poucos legionários do exército de Caio Nigídio que escaparam, desertaram.
Caio Nigídio não apareceu, fora uma das vítimas da tremenda catástrofe. Viriato mais uma vez saía vitorioso.
7 - A ILHA ACHALE
Partiu acompanhado dos seus mil soldúrios (soldados) , transpuseram o rio Tagus e dirigiram-se à cidade de Cetóbriga (Troia). Dali, saiu, numa barca de couro acompanhado dos fiéis amigos, os cavaleiros Ditálcon, Andaca e Minuro, a foz do rio Sado em direcção ao promontório de trás do qual se ocultava a ilha sagrada de Achale.Ditálcon disse que fora naquela ilha que muitas famílias se refugiaram depois da chacina provocada por o general Galba, junto do Deus Endovélio, para curarem as suas feridas.
Andaca e Minuro estavam ansiosos por porem pé naquela terra mágica que tanto ouvira falar.Viriato conservava-se concentrado e silencioso e enquanto a barca deslizava por entre um nevoeiro profético.
A barca, saindo do nevoeiro, chegou às rochas escarpadas da ilha, sobre a qual se erguia uma torre redonda de três andares. Erecta sobre o promontório, a torre de surpreendente elegância, era construída de fortes blocos, tendo a encimar uma pedra de forma cónica. O interior era alumiado por seteiras, e a única porta de entrada estava só acessível por uma escada móvel. Ali na torre se conservava o Fogo perpétuo consagrado ao Deus Sanham, o Julgador dos mortos, cujos ritos se celebram no primeiro dia de Novembro.
Viriato e os seus companheiros desembarcaram. Idevor com um longo séquito de Endres, veio ao seu encontro, entre músicas ruidosas e hinos festivais foram dirigidos à sala do banquete. Enquanto Viriato se sentava à cabeceira da mesa, entraram na sala nove donzelas encantadoras, das mais belas do tipo da raça, de longos cabelos castanhos, que dançavam e cantavam em uníssono, quando uma voz de uma beleza divinal, descendo lentamente do primeiro andar da torre uma donzela de uma graça e beleza sobre-humana trazia uma taça de ouro que estendeu a Viriato:
- Bem Vindo! Viriato. Só para ti, e com a minha felicidade.
Viriato bebe pela taça e disse:
- A tua saúde e para sempre. Idevor ergueu as mãos e abençoando-os: Viriato e Lísia.
As nove donzelas cantaram um hino de amor, ao som de instrumentos muito antigos.
No segundo dia Idevor levou Viriato ao primeiro andar e ambos, fitando o mar, Idevor falou: - Não serão só os Romanos que vão querer subjugar as tribos lusitanas, outros virão com o mesmo propósito de possuir pela força da conquista. A Lusitânia pode ser temporariamente vencida mas nunca será subjugada, porque a liberdade susterá nas almas, e mais tarde ou mais cedo, renascerá em restauração gloriosa.
- Tens a força material, nessa Espada Gaizus, que te torna invencível: a força moral é a que não se extingue e mais se comunica. Já que serves com lealdade a Lusitânia é preciso que o teu espírito seja apoiado pela Tradição da nossa raça que a conheças porque a tua memória sobreviverá nela. E com esta força de resistência imanente na nossa raça que deves contar; ela vale muito mais de que muitos exércitos disciplinados; estes morrem mas esse sentimento é inextinguível. A Lusitânia não é somente um território, maior ou menor, que nos agrega; é uma alma, o seio que nos une a todos. Vês esse Mar imenso? As grandes Navegações fundarão novos Impérios em vastos continentes agora ignorados. É este o destino da Lusitânia disse o Sábio Ivenor prevendo o futuro da raça.
Era tempo de partir, o seu povo estava a precisar do seu comando. A barca de couro já estava pronta. Lísia veio despedir-se dele acompanhada das nove donzelas. Viriato voltaria para unir o seu destino ao de Lísia sob as bênçãos do Endre Ivenor.
quarta-feira, 10 de março de 2010
6 - A ESPADA GAIZUS
Numa das lajes da Anta existe um buraco aberto a meia altura do chão, tendo um palmo em quadrado de diâmetro. por esse buraco que o Endre Idevor, interrogava os mortos sobre a sorte das batalhas. Em poucos dias Viriato chegou ao Castro da Colla. Já tinham chegado grande parte dos chefes entre eles, Tantalus e Punicos, os mais aguerridos e amigos de Viriato. Idevor já tinha colocado na pedra furada as oferendas do banquete funerário O conselho armado ali representado pelas tribos lusitanas tratavam de saber como se defenderem dos romanos que pretendiam vingarem-se de tantas derrotas que lhe infligiram. Idevor avançou para a pedra furada ajoelhou-se e interrogava os mortos colocando o ouvido no orifício da pedra. De repente quebra-se o silêncio e Idevor, falou: - Viriato! Viriato! Nunca serás vencido em batalha! Nunca morrerás às mãos dos Romanos. A satisfação dos presentes foi total.
- Os Romanos em vez de um general podem mandar dois para aguentarem melhor o peso da derrota disse Tantalus
- Mas, pelo seguro, a força do oráculo está numa boa espada – disse Punicus
Idevor pegou na espada de Viriato e disse: - Esta acabou o seu destino, as populações seguem-te, porque vêem em ti o restaurador da independência, da liberdade e do futuro glorioso da Lusitânia. Aqui na Anta da Candieira está guardada a espada maravilhosa e invencível, e serás tu que a mereces em defesa deste povo contra o invasor Romano. Nunca serás vencido. Dizendo estas palavras, Idevor meteu o braço pela pedra furada, e sacou com jeito pelo buraco da laje uma espada toda ela refulgia.
- Entrego-te a Espada invencível das batalhas, a Espada Gaizus
Viriato pegou na Espada, beijou-a e brandindo-a no ar, disse: - Há-de ser livre a Lusitânia Com a Espada Gaizus e o Colar dos três Crescentes que hoje usas és o nosso supremo chefe.
- Um viva por Viriato - disse Tantalus.
Viriato espetou a Espada Gaizus na terra, reunindo-se todos os guerreiros em volta e o Endre Idevor proferiu a Bênção da Espada.
5 - O SÁBIO IDEVOR
Um grupo de homens, a que se davam o nome honorífico de Anciãos e cuja palavra era inspirada e eloquente chegaram a Toletum. O povo pelo costume antigo chamava Endre a cada um desses homens, a quem acatavam como depositários de um maravilhoso poder espiritual. De facto os Endres eram propriamente os Antigos das tribos, os que conservavam a norma e o sentido moral ou histórico dos costumes, possuíam um saber do passado, que os tornava oráculos vivos, conselheiros em todos os momentos arriscados e conciliadores nas lutas internas e separatistas das várias tribos. Um destes Endres, o mais querido entre as tribos, era o venerando Idevor. Quando passava pelos povoados chamavam-no de Sanctum Anderu, e davam-lhe coroas feitas de ramos de azinheira. Pela sua paixão pela Lusitânia se justifica o regozijo que em seu espírito provocou o aparecimento de Viriato.
Sentado a uma mesa bebendo cerveja de cevada, Leucon, chefe das tribos celtibéricas, falando para outros chefes lusitanos, desprezava o que se dizia sobre a qualidade militar de Viriato, e vingador dos morticínios de Sérvio Galba.
Idevor que entrara na taberna e ao ouvir que tentavam amesquinhar a bravura do lusitano disse:
- Eu conheço a vida desse valente pastor. Quantos aqui possuem gados, sabem qual o valor de um homem as quem confiaram vinte mil cabeças de gado, levando-os de barranco em barranco e defende-los de lobos, ursos e mesmo de salteadores. É verdadeiramente um homem: e, pela resistência ao sofrimento e às contrariedades, é o tipo dos lusitanos. O que insurreccionou a sua alma contra os romanos foi ter assistido à mortandade ordenada Galba.
- As ameaças e as represálias romanas fizeram compreender a todos os chefes das tribos lusitanas presentes, que tinham de dar o seu apoio a Viriato como recurso da própria segurança. Foi geral a concordância.
- Que seja entregue a Viriato o Colar de Ouro dos Três Crescentes como insígnia poder e para que lhe obedeçamos como nosso igual.
Idevor, erguendo-se com o seu aspecto majestoso, falou:
- Eu sei onde pára oculto o Colar de Ouro dos Três Crescentes, que atesta essa época em que todos os Estados da Lusitânia estavam ainda unidos. O Colar está oculto numa caverna onde existem umas ruínas, com menires e grandes monólitos sobrepostos, no fundo da rocha e escavada na rocha encontra-se uma Arca que contém o Colar. Eu só guardava o segredo desse tesouro incomparável, muitas vezes receei que ele se extinguisse com a minha vida! Eu vou buscá-lo.
Regressado a Toletum com o Colar dos Três Crescentes, os chefes lusitanos caminharam ao seu encontro, saudando-o com gritos de alegria, e erguendo ao ar as suas lanças de prata, bradaram com entusiasmo.
- Lançai ao pescoço e Viriato a Víria do comando – O Colar dos Três Crescentes.
Antes, porem, pediu que Idevor que recitasse a Saga ou narrativa que se dizia existir da Víria ou Colar de Ouro dos Três Crescentes.
Idevor não se fez rogado, e começou a recitar do poema de Chrysaôr, que segundo a tradição contava milhares de anos de antiguidade.
O Endre sapiente; o velho, mostrando o Colar de Ouro dos Três Crescentes, avançou para junto de Viriato, e depois de fazer uma vénia solene lançou-lhe ao pescoço a Víria da tríplice soberania.
terça-feira, 9 de março de 2010
4 - A BATALHA DE RONDA
Foi no meio de uma ansiedade de luta, que entre os lusitanos correu a nova de que o general romano Caio Vetílio que já pisava terras de Espanha com tropas frescas e aguerridas para por fim à insurreição lusitana por causa da traição de Sérvio Galba. Caio Vetílio juntou em Córdoba as tropas que se encontravam na cidade com as falanges trazidas de Roma. Não havia tempo a perdera rapidez do ataque muitas vezes decide a sorte da batalha. Caio Vetílio deu ordem que o seu exército, de mais de dez mil homens, seguissem em massa compacta pela Turdetânia e fosse ao encontro das tribos lusitanas. Não tardou que as tribos lusitanas fossem avistadas e ordem de Caío Vetílio com a senha tradicional: - Sem tréguas, nem quartel.
O entusiasmo dos lusitanos no primeiro assalto era previsível mas foi impotente, apesar de ser comparável em número de guerreiros faltava-lhe a disciplina e a mais importante de todas a ordem de um comando general. Depressa os lusitanos reconheceram a batalha perdida, apesar da bravura e valentia dos seus homens, mas pela imprevidência de entrar na luta sem um chefe que as dirigisse.
De entre os lusitanos foram enviados a Caio Vetílio emissários, levando erguidos “ramos de oliveira”, Diálcon falou: - Vimos aqui pedir a suspensão do combate, e a paz, rendendo-nos em massa ao poder de Roma.
Caio Vetílio mandou suspender as hostilidades, e perguntou:
- Quem responde pela revolta contra a soberania de Roma?
- Nós todos, perdendo o direito de povos livres, mas conservando a liberdade individual de cada lusitano
-
- Ficaremos em campos de concentração, nos conservaremos quietos e submissos no cumprimento de todas as imposições. - falou Diálcon
Caio Vetílio mandou retirar os emissários e que regressassem no dia seguinte para assinar o pacto de rendição.
Era noite cerrada quando os emissários chegaram ao acampamento lusitano. Ao descreverem a conversa tida com o general, transmitindo as exigências deste – submissão perpétua e incondicional, com garantia de reféns para a efectividade do pacto, ouviu-se um rugido como de uma fera que silenciou os presentes. Viriato fez-se ouvir: - Para ser escravo de Roma não são precisos pactos. Que loucura confiar na palavra dos romanos. Já se esqueceram de Sérvio Galba?
- E o que fazer?
- Resistir!
- Viriato és o nosso chefe. Comandai-nos contra as legiões romanas disseram os guerreiros lusitanos pelas vozes dos seus chefes.
- Escutai a estratégia que iremos utilizar.
Deste modo Viriato convenceu os seus compatriotas que usando uma manobra hábil dividiu a tropa em pequenos grupos tácticos e atacou em várias frentes, chamando a si um grupo de cavaleiros que controlava as posições dos romanos, enquanto as outros grupos iam-se escapando através dos sectores mais fracos das linhas inimigas, concentrando-se no local que previamente tinham combinado. O grupo de cavaleiros de Viriato rompeu o cerco e foi arrastando os romanos em direcção ao desfiladeiro da Serra de Ronda. Quando o grosso do exército romano passava nesse apertado desfiladeiro onde não tinham possibilidades de manobra, caíram sobre eles os lusitanos ocultos nas encostas íngremes, fazendo nas fileiras inimigas uma espantosa chacina, tendo sido morto próprio general Caio Vetílio.
3- OS MONTES GAUDIOS
As tribos lusitanas cansadas das lutas travadas com as legiões romanas aceitaram a convocação de uma assembleia proposta pelo governador romano Sérvio Galba na margem direita do rio Tagus (Tejo), recomendando-as que viessem desarmadas porque se tratava de assinar um pacto perpétuo de concórdia, junto à Arvore de Maio que o governador Galba mandou plantar.
Enquanto se esperava por Sérvio Galba que tardava aparecer com a sua Corte, quatro legiões romanas colocaram-se em ordem de batalha envolvendo a multidão, ninguém suspeitava a intenção de tal envolvimento.
Depois apareceu a cavalaria com mil cavaleiros, armados com espada hispânica de
dois gumes. Neste momento os Lusitanos aperceberam-se da intenção dos Romanos.
Um velho aconselhava prudência:
- Aguardemos pelo governador Galba, algo está errado gritava um velho rodeado de mulheres e crianças
Neste momento pesados calhaus lançados por catapultas caiam sobre a multidão indefesa. Os que fugiam iam-se espetar nas lanças afiadas dos lanceiros romanos, enquanto lanças incendiárias eram arremessadas sobre a multidão, outros arremessavam panelas de pez e estopa ardendo. A confusão era geral e a multidão movia-se desesperada sem oferecer resistência, pois não tinham com quê.
O General Galba deu ordem para os cavaleiros romanos de passar à espada aquela gentalha, já era tempo de acabar com a batalha. O sol descia no poente e os cavaleiros informaram o general que já não havia tempo para matar tanto lusitano. Foi então que Sérvio Galba mandou avançar dez enormes elefantes couraçados com chapas que foram conduzidos sobre aquela montão de gente, esmagando-a.
Foi quando, do montão de corpos desfeitos, um vulto ágil, saltando de elefante em elefante abatia-os de modo fulminante com um golpe certeiro num ponto do crânio do animal. Este vulto, destemido e de grande valentia, tratava-se do jovem Viriato, conhecido como pastor dos Montes Hermínios.
A noite era já cerrada, quando Sérvio Galba mandou lançar fogo ao montão de cadáveres e elefantes. De entre este amontoado de cadáveres, escaparam-se alguns lusitanos que se fingiram de mortos, e que foram de cidade em cidade a pedir vingança!
- É certo que esses corpos insepultos reclamavam dos vivos um dever sagrado!
- dizia um lusitano ancião.
- Que cada cidade, faça as suas peregrinações ao campo da matança e atirem pedras por cima dos cadáveres até que se formem Montes Gaúdios, que deviam tornar-se, não um simples monumento funerário, mas como uma torre de protestos e de eterna revolta contra Roma - disse o valoroso e jovem guerreiro Viriato cuja fama já corria por toda Lusitânia.
Naquela planície junto ao rio Tagus e às mãos das tropas romanas, numa traição sem precedentes, morreram 20.000 lusitanos entre velhos, mulheres e crianças e outros 10.000, foram vendidos como escravos na Gália.
2 - VIRIATO
Foi eleito chefe dos lusitanos, depois das vitórias conseguídas sobre os romanos, em especial quando dizimou as tropas do general Caío Vetílio na célebre batalha de Ronda. Depois de defender vitoriosamente as suas montanhas, Viriato lançou-se decididamente numa guerra ofensiva. Entra triunfante na divisão romana da Península e lança contribuições sobre as cidades que reconhecem o governo de Roma.
O Senado Romano não aceitando este estado de coisas que se vivia na sua província ibérica, mandou sucessivamente tropas comandadas pelos seus mais prestigiosos generais que sofreram pesadas derrotas.
Finalmente, e depois de se sentir que a luta não se poderia aguentar por muito mais tempo assinou um tratado de paz com o novo pro cônsul romano Quinto Fábio Máximo Serviliano que foi ratificada pelo Senado Romano, que reconhecia a liberdade e independência do Povo Lusitano. Viriato rejeitou o título de Rei, mas exclusivamente a denominação de Amigo de Roma.
Mas o tratado pouco tempo teve vigência, quando o novo cônsul Romano Quinto Servílio Cépio ignorou-o, preparando-se para atacar de novo a Lusitânia. Viriato enviou a Roma os seus três melhores e leais amigos para lembrar a Cépio o tratado que tinham celebrado com Serviliano. Cépio lembrou aos emissários de Viriato que “ Os tratados só tem força que lhe dão as espadas. Viriato não deve estar bem munido porque me manda lembrar o tratado: Quereis saber? O tratado já não existe.” Mas quereis a paz da Lusitânia? Sim, disseram os emissários. A paz da Lusitânia mas não a paz de Viriato! disse Cépio
A mensagem de Cépio estava lançada e a traição ia-se realizar. Os emissários concordaram e foi a Minouro que lhe caiu a sorte de matar Viriato. De regresso à Lusitânia o assassinato realizou na tenda onde Viriato ainda dormia. Depois da morte de Viriato os Romanos e as suas legiões dominaram a Lusitânia e toda a Península Ibérica.
1- A LUSITÂNIA
A Lusitânia no tempo que se desenrola a história de Viriato, compreendia o território a sul do Durius (Douro) e ia até ao sul do país Cineticum (Algarve). Compreendia também parte da Bética (actual Andaluzia) e parte da província de Salamanca. A sua capital era Emmerita Augusta (Mérida). Tinha-se tornado numa província romana a partir de 29 a.c, pertencendo à chamada Espanha Ulterior. A Península Ibérica Romana estava dividida em duas províncias, Citerior e Ulterior, separadas por uma linha perpendicular ao rio Ebro e que passava pelo saltus Castulonensis (a actual Serra Morena, em Espanha.
Viviam em cidades amuralhadas, nos altos dos penhascos por questões de defesa, chamados castros, citânias ou cividades. As casas eram redondas ou quadradas de pedra, cobertas de colmo, algumas tinham uma janela.
A sua alimentação era à base de pão de bolota, e viviam da caça: coelho, javali, veado e também o urso que na altura exista. Bebiam essencialmente água mas também cerveja de cevada, nas festividades o vinho fazia parte da ementa.
As suas armas de defesa baseavam-se em dardos farpados de ferro a lança de arremesso, tudo de ferro e a funda. Utilizavam a caetra: é um pequeno escudo de dois pés de diâmetro que se manejava com a mão esquerda, era feito de madeira, couro, nervos trançados, bronze ou ferro, ficava suspenso por correias que eram manejadas habilmente para se defenderem dos dardos. Cota de malha era feita de pequenas argolas de ferro entrelaçadas, era pesada, e usada apenas por alguns guerreiros, provavelmente os líderes. Couraça de linho era o tipo de protecção mais usada. Os elmos e as polainas eram de couro.
São conhecidos os nomes de muitos chefes lusitanos: Punicus, Cæsarus, Caucenus, Curius, Apuleius, Connoba e Tantalus, mas o mais célebre foi, sem dúvida, Viriato
As cidades lusitanas mais importantes eram. Emérita Augusta ( Mérida), Pax Julia ( Beja), Balsa (cidade portuária perto de Tavira), Scalabis ( Santarém), Miróbriga (Santiago do Cacém), Cetóbriga( Troia), Arabriga ( Alenquer) Olissipo (Lisboa) e Salacia ( Alcácer do Sal).